terça-feira, 12 de abril de 2011

Pós-modernidade, modernidade líquida.

Pós-modernidade, modernidade líquida.

Nasci nesse tempo, nessa era chamada de pós-modernidade. Obviamente quando nascemos não temos consciência do ambiente cultural, filosófico e social no qual acabamos de pousar. Nem mesmo antes do nosso desembarque nos foi dado algum tipo de treinamento, ao menos, posso dizer que não lembramos de ter sido instruídos, embora alguns de nós (em alguns momentos) agimos como se tivéssimos sido. O que importa é que mais cedo ou mais tarde, e cada vez mais cedo, se faz necessário entender o mundo que nos rodeia, esse ambiente, essa atmosfera que para uns é objeto de respiração e para outros agente de sufocação. Mas essa necessidade se apresenta como escolha: ou buscamos entender ou ignoramos. Aos que buscam entender tenho visto se tornarem críticos, "inconfortados", inconformados, insatisfeitos. Aos que ignoram, tenho visto tomarem cada vez mais a forma do ambiente, se acomodam a ele, confortados, conformados. Numa visão geral, creio que tem sido assim em todas as épocas.

Para a compreensão da presente era, Zygmunt Bauman é um autor que me chamou a atenção. Sociólogo polonês, elaborou o conceito de modernidade líquida, o qual me parece fundamental para quem quer entender o presente. Segundo Bauman, a pós-modernidade pode ser entendida por sua liquidez. O entendimento fica mais claro quando refletimos sobre as características físicas dos líquidos:

"Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade [...] Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou tornam irrelevante), os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la." (BAUMAN, 2005a, p.8 in: CUGINI, 2008, p.161).

Paolo Cugini, doutor em filosofia, nos ajuda a estender essa concepção num artigo onde expõe as principais idéias de Bauman. Lá podemos ver que, para o sociólogo polaco, "a crise das ideologias fortes, 'pesadas', 'sólidas', típicas da modernidade produziu do ponto de vista cultural, um clima fluido, liquído, leve, caracterizado pela precariedade, incerteza, rapidez de movimento". (CUGINI, 2008, p.161). Muitos são os fenômenos que nos são apresentados a partir disso, o que Zygmunt faz muito bem, todavia para este texto reservo o espaço para um desses aspectos:

"[...]de uma sociedade que acredita na eternidade para uma que vive a infinitude. A eternidade é, sem dúvida, um conceito de cunho religioso que, do ponto de vista filosófico, pode ser colocado entre as ideologias que a modernidade assumiu e que, ao mesmo tempo, orientou a vida dos homens modernos. A infinitude é o tempo presente protelado, esticado. “O dia de hoje pode-se esticar para além de qualquer limite e acomodar tudo aquilo que um dia se almejou vivenciar apenas na plenitude do tempo.” (BAUMAN, 2005b, p.15). Não se fala mais de valores eternos, mas sim de eventos que se repetem no tempo. Também porque os valores eternos são fundamentados sobre aqueles princípios metafísicos que, na pós-modernidade, não encontram mais espaço. O infinito, que substitui o conceito de eternidade, não é de cunho metafísico, mas sim existencial. O infinito pode ser, assim, entendido como uma série contínua de tempos presentes, sem precisar hipotetizar improváveis mundos futuros, mas simplesmente aceitar o contínuo movimento do tempo. O tempo fluido pós-moderno não precisa mais de eternidade pelo simples fato que desmoronou o equipamento conceitual, ou seja, a metafísica, que amparava esta ideologia. Do outro lado, não podemos também sustentar que a idéia de tempo fluido retoma a velha concepção filosófica do mito do eterno retorno (ELIADE, 1999), ligado à natureza. Nada de filosófico ou de esotérico vive o homem pós-moderno, mas é a exploração paroxística de tudo aquilo que o evento presente pode oferecer. É a protelação destes eventos que rende o tempo infinito, sem nenhuma ligação com aquilo que o precede e também com o evento sucessivo." (CUGINI, 2008, p.161).

O repúdio a eternidade, que ainda resistia na modernidade (ao meu ver de uma forma artificial), provoca essa vida de fragmentos que vivemos hoje, onde se troca a alegria pelo prazer, o conhecimento pela informação, a peregrinação pelo turismo, o certo pelo conveniente. Essa doença tem afetado até mesmo o mundo religioso. Um tipo de "relacionamento" pragmático com Deus pode ser percebido em igrejas (ou "pseudo-igrejas"?), onde se vive a fé como uma espécie de instrumento para satisfação pessoal, que nada tem haver com a espiritualidade, que em nada visa a eternidade, mas o infinito presente do ego.

Esta fusão pela qual passou a modernidade, ao meu ver não é a primeira. Não só ela sofreu a sua crise. Portanto a modernidade já era produto de uma fusão, já era também líquida e hoje vivemos uma liquidez ainda mais intensa. O estopim disso encontramos lá trás quando o homem resolveu iniciar sua jornada em busca da independência. Primeiro rejeitaram Deus (A Rocha, O Fundamento de tudo), depois disso segue-se inssureições contra a Razão, contra a Natureza, até mesmo contra a sua própria. Afinal, o que sobrou? Cada vez mais líquida segue a existência humana no Universo. Mas não se pode ser assim para sempre, uma hora virá a ser gás e a instabilidade será insuportável.



Antônio Augusto

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